É passada a ceia. O estômago que não agüentou o pré-ceia volta a comer. O estômago que agüentou a ceia ou está dilatado ou pede por apenas um digestivo - um curador de ressaca, sem eufemismos.
Os quilos a mais ainda estão na balança e não chegaram até seu corpo, pois com tanta comida e sobremesa dá um embrulho se pensar em checar a balança. Aquele que desistiu de medir a tolerância com bebidas alcoólicas (bebe mais quando está com menos paciência) está nos trinques, outros apenas imploram por uma aspirina junto com um remédio pra enjôo.
Essa é o Natal do Natalucho. Natalucho come, come, come. Exclui-se. Aquele movimento de parentes é demais pro seu estômago. E Natalucho pode estar no estômago de muitos.
Passada a ceia, pode-se fingir um pouco de normalidade. Se ninguém ver um copo na sua mão, podem até chamá-lo de espontâneo. Sorrisos delicados, ouvidos desentupidos de onde as palavras saem com facilidade, boca desmedida cheia de comida - não mais. Ou nem tanto mais.
Devido à crise financeira o peru de natal pode ter se transformado em um frango de natal. Ou pernil. Devido à crise de todos, pode ocorrer uma inibição. Mas se não houver uma crise pessoal forte o bastante, pode-se perceber com os comentários como aquele é estudioso, como todos são educadíssimos, bem sucedidos e bons com a sociedade, como são charmosos e glamourosos.
E o outro lado da trincheira, que não gosta de se exibir ou fingir desse modo, fica apenas calado com um sorriso no rosto. Não é um sorriso de auto-comiseração. É um sorriso de "eu sei que você não é assim o tempo inteiro" que o outro lado não entende pelas frutas secas que lhe tapam a visão.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
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